Educação e o Processo de Habilitação do Condutor
A falta de educação no trânsito e a conseqüente violência que isso gera, já é uma preocupação mundial. Se a falta de educação leva ao subdesenvolvimento e mata a longo prazo, a falta de educação no trânsito é a prova viva desse desenvolvimento que mata de imediato.
A educação é a principal ferramenta para chegarmos à solução para os problemas da extrema violência do trânsito brasileiro. Apesar de toda a moderna tecnologia empregada no controle das infrações e da possibilidade da presença eventual e inesperada de um agente de fiscalização com o seu arsenal de advertências e punições (guardas, pardais, semáforos, radares barreiras eletrônicas e multas), só um motorista consciente e responsável irá, independente de qualquer ameaça, apresentar um comportamento civilizado no trânsito. Uma boa engenharia de trânsito é muito importante. Sinalização adequada e pistas seguras também.
No entanto, não há nada que impeça acidentes quando o motorista transgride as leis e sai conduzindo seu veículo de forma alucinada, utilizando as vias públicas como pistas de teste e desrespeitando as mais elementares normas de segurança e de respeito ao próximo. Além desse comportamento condenável e até criminoso, falta ainda ao motorista brasileiro a prática cotidiana da cooperação e da gentileza que, no trânsito, resolveriam questões de relacionamento que a melhor engenharia teria dificuldades em resolver. A nossa educação está carente de princípios e valores morais e éticos bem definidos. É na primeira infância que a criança forma os conceitos do bem e do mal, do certo e do errado.
Quando os pais não deixam essas questões claras para os filhos, a formação desses conceitos fica prejudicada. Na estrada com a família por exemplo, quando ultrapassamos outro veículo numa curva sob faixa contínua ou dirigimos em velocidade superior à permitida estaremos passando de uma maneira muito forte e clara para nossos filhos que estão ainda em processo de formação de caráter, que mentir e enganar são valores que praticamos sem constrangimento. Nós definimos nossos valores mais pelos nossos atos e exemplos do que pelas nossas palavras e sugestões. Esses comportamentos inadequados, aprendidos na infância, vão tomando dimensões maiores na adolescência, vão se enriquecendo com a força do grupo e terminam nesse "show de agressões" a que hoje assistimos estarrecidos em nossa sociedade. Não existe falta de educação no trânsito. O que existe é falta de educação mesmo.
O trânsito assim reflete o desrespeito ao próximo, a competitividade exacerbada e inconseqüente e, sobretudo, a prática costumeira de sempre levar vantagem. Podemos comparar o trânsito a arena onde os romanos antigos se divertiam de forma sádica. Ao vestimos nossa armadura - o carro - nós nos tornamos poderosos, imbatíveis quase imortais. Um outro condutor e até mesmo o indefeso pedestre, são os nossos adversários que devemos abater violentamente e sem piedade.
É este o comportamento geral que, inconscientemente, envolve o motorista costumeiramente imprudente e agressivo. E de quem é, afinal, a responsabilidade pela educação para o trânsito? Será das autoridades, dos Centros de Formação de Condutores e dos Agentes de Trânsito? No nosso entender é de toda a sociedade que deve estar visceralmente comprometida com a cidadania e com a qualidade de vida em busca de um trânsito civilizado e sem violência.
A solução para os problemas que o trânsito oferece vai muito mais além do que a simples construção de vias de acesso, alargamento de vias, construção de pontes, etc. Não existe fórmula concreta para a solução, não será uma atitude isoladamente que será necessário para solucionar tal problemática. Precisamos construir a via da educação, educar não só o motorista, mas o cidadão.
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